quarta-feira, novembro 20, 2013

PROMESSAS

Como se não bastasse o esquizofrênico comportamento de que fui acometida passando dias frente à tela, freneticamente acionando o controle remoto para não perder nem os feitos olímpicos, nem os malfeitos do julgamento do Mensalão, deles me surgiram filosóficas elucubrações sobre significado de Promessas e suas conseqüências. Talvez por que a ideia de promessa se encontre embutida tanto num quanto no outro evento: promessa de medalhas, vitórias e notoriedade num e de condenação ou absolvição no outro. Nos dois os eventos a esperança de “se dar bem” se constitui numa promessa. Mesmo a ré rotulada por seu advogado de “mequetrefe” sente no ar uma promessa, quando mais não seja a de recuperar a autoestima que deve andar no fundo do poço depois que assim foi rotulada por seu defensor.

Mas voltando às minhas elucubrações. Promessas... Por que as fazemos? Por que, freqüentemente, as promessas não se cumprem ainda que se tenha a melhor das intenções ao formulá-las ou a maior esperança de que se concretizem? Verdade seja dita que nem sempre estas boas intenções estão presentes. Exemplo disto foi dado por meu filho mais velho aos três anos. Em resposta à interrogação tão comum em todas as mães diante de um comportamento inadequado ou perigoso – você promete que não faz mais? - respondeu-me ele: pometo e quI eu fize outa vez eu pometo outa vez, tá bom? Na duvida de se deveria explicar a uma criança daquela idade o valor de uma promessa resolvi calar-me e apenas rir.

Hoje vejo que estava certa já que a dúvida sobre a validade das promessas me surge aos mais de oitenta anos! O pior é que embora saibamos da dificuldade de serem levadas a bom termo, as promessas que fazemos ou as que a vida nos faz, causam uma enorme decepção quando não se concretizam. Não falo aqui de promessas feitas com o amparo da fé religiosa. Sobre estas, que têm como fiador o divino, não me sinto à vontade para opinar. É o caso, por exemplo, dos votos proferidos no casamento religioso. O “para toda vida” e a “indissolubilidade”, nele embutida, me escapam. Mas e a união civil? Tenho certeza que no momento em que esta promessa é feita, na grande maioria dos casos, o é também “para toda vida”. Naquele momento é inimaginável pensar que, a rigor, trata-se de um contrato ao qual se contrapõe um destrato legal. Mesmo quando o destrato não ocorre um grande número de noivos, passados anos, não cumpre a promessa feita. E vem a tristeza, a decepção, o desencanto.

Não devia ser assim. O que deveria impregnar para sempre a memória e a emoção é a beleza e o encanto do tempo em que foi tudo foi tão bom. O eterno enquanto dure de Vinicius, já se constitui no cumprimento de uma promessa que não precisa ter a extensão de toda uma vida para ser válida. Quem sabe o segredo é nunca associar a ideia de duração às promessas. Conseguir deixar de fumar por três meses já é uma vitória. Fazer regime também. Por que rotular de perdedores os capazes destes feitos? Mas é isto que acontece deixando humilhados e frustrados os “prometedores”.

A medalha de prata, de cobre ou mesmo a não medalha, tem provocado frustração nos atletas e nos que os assistem, fazendo com que, mesmo sem ter advogados que os assim os rotulem, estes sejam vistos pelo grande público como “mequetrefes” e, pior ainda, por eles próprios. O fato de terem chegado a uma olimpíada não conta: a medalha de prata ou de bronze é “menor”. E vem a ladainha: Neimar não jogou nada; Fabiana Murer amarelou; Cielo não se esforçou; Rodrigo Pessoa já era. Coisa esquisita esta de exigirmos a perfeição em outros ou em nós quando somos todos comprovadamente imperfeitos.

Em seu delicioso livro O Andar do Bêbado, Leonard Mlodinow nos fala do Fenômeno de Regressão à Média que talvez explique o porquê de tantas falhas em resultados prometidos como mais que bem sucedidos. Diz ele que em qualquer série de eventos aleatórios, há uma grande possibilidade de que um acontecimento extraordinário seja seguido, por virtude meramente do acaso, de um acontecimento mais corriqueiro. Isto nos consola e dos 3 X 2 na final do vôlei masculino, promessa certa de medalha de ouro. De qualquer modo é claro que nunca devemos abandonar a esperança, mas também não deveríamos ficar tão atingidos quando não cumpridas as promessas que tínhamos como certas.

Em minha adolescência, se houvesse prestado a atenção devida, eu poderia ter aprendido isto com um louco que andava sorridente pelo centro de Miguel Pereira, naquele tempo uma mínima cidade. Doce e calmo ele se aproximava das pessoas, as encarava e dizia: Amigo! Guardei-te um figo. Quando te vi... comi! A promessa de saborear um delicioso figo, tão generosamente ofertado e já considerado como nosso, sucumbia na decepção sabê-lo engolido por outro!  Esta única manifestação verbal de um louco era de fato uma grande verdade: não é prudente contar como certo o sabor do figo!   
2012


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