Como se não bastasse o esquizofrênico
comportamento de que fui acometida passando dias frente à tela, freneticamente
acionando o controle remoto para não perder nem os feitos olímpicos, nem os
malfeitos do julgamento do Mensalão, deles me surgiram filosóficas elucubrações
sobre significado de Promessas e suas conseqüências. Talvez por que a ideia de
promessa se encontre embutida tanto num quanto no outro evento: promessa de
medalhas, vitórias e notoriedade num e de condenação ou absolvição no outro.
Nos dois os eventos a esperança de “se dar bem” se constitui numa promessa.
Mesmo a ré rotulada por seu advogado de “mequetrefe” sente no ar uma promessa,
quando mais não seja a de recuperar a autoestima que deve andar no fundo do poço
depois que assim foi rotulada por seu defensor.
Mas voltando às minhas elucubrações.
Promessas... Por que as fazemos? Por que, freqüentemente, as promessas não se
cumprem ainda que se tenha a melhor das intenções ao formulá-las ou a maior
esperança de que se concretizem? Verdade seja dita que nem sempre estas boas
intenções estão presentes. Exemplo disto foi dado por meu filho mais velho aos
três anos. Em resposta à interrogação tão comum em todas as mães diante de um
comportamento inadequado ou perigoso – você
promete que não faz mais? - respondeu-me ele: pometo e quI eu fize outa vez eu pometo outa vez, tá bom? Na duvida
de se deveria explicar a uma criança daquela idade o valor de uma promessa
resolvi calar-me e apenas rir.
Hoje vejo que estava certa já que a dúvida
sobre a validade das promessas me surge aos mais de oitenta anos! O pior é que
embora saibamos da dificuldade de serem levadas a bom termo, as promessas que
fazemos ou as que a vida nos faz, causam uma enorme decepção quando não se
concretizam. Não falo aqui de promessas feitas com o amparo da fé religiosa.
Sobre estas, que têm como fiador o divino, não me sinto à vontade para opinar. É
o caso, por exemplo, dos votos proferidos no casamento religioso. O “para toda
vida” e a “indissolubilidade”, nele embutida, me escapam. Mas e a união civil?
Tenho certeza que no momento em que esta promessa é feita, na grande maioria
dos casos, o é também “para toda vida”. Naquele momento é inimaginável pensar
que, a rigor, trata-se de um contrato ao qual se contrapõe um destrato legal.
Mesmo quando o destrato não ocorre um grande número de noivos, passados anos,
não cumpre a promessa feita. E vem a tristeza, a decepção, o desencanto.
Não devia ser assim. O que deveria impregnar
para sempre a memória e a emoção é a beleza e o encanto do tempo em que foi
tudo foi tão bom. O eterno enquanto dure de Vinicius, já se constitui no
cumprimento de uma promessa que não precisa ter a extensão de toda uma vida para
ser válida. Quem sabe o segredo é nunca associar a ideia de duração às
promessas. Conseguir deixar de fumar por três meses já é uma vitória. Fazer
regime também. Por que rotular de perdedores os capazes destes feitos? Mas é
isto que acontece deixando humilhados e frustrados os “prometedores”.
A medalha de prata, de cobre ou mesmo a não
medalha, tem provocado frustração nos atletas e nos que os assistem, fazendo
com que, mesmo sem ter advogados que os assim os rotulem, estes sejam vistos pelo
grande público como “mequetrefes” e, pior ainda, por eles próprios. O fato de
terem chegado a uma olimpíada não conta: a medalha de prata ou de bronze é
“menor”. E vem a ladainha: Neimar não jogou nada; Fabiana Murer amarelou; Cielo
não se esforçou; Rodrigo Pessoa já era. Coisa esquisita esta de exigirmos a
perfeição em outros ou em nós quando somos todos comprovadamente imperfeitos.
Em seu delicioso livro O Andar do Bêbado,
Leonard Mlodinow nos fala do Fenômeno de Regressão à Média que talvez explique
o porquê de tantas falhas em resultados prometidos como mais que bem sucedidos.
Diz ele que em qualquer série de eventos aleatórios, há uma grande
possibilidade de que um acontecimento extraordinário seja seguido, por virtude
meramente do acaso, de um acontecimento mais corriqueiro. Isto nos consola e
dos 3 X 2 na final do vôlei masculino, promessa certa de medalha de ouro. De
qualquer modo é claro que nunca devemos abandonar a esperança, mas também não
deveríamos ficar tão atingidos quando não cumpridas as promessas que tínhamos
como certas.
Em minha adolescência, se houvesse prestado a
atenção devida, eu poderia ter aprendido isto com um louco que andava
sorridente pelo centro de Miguel Pereira, naquele tempo uma mínima cidade. Doce
e calmo ele se aproximava das pessoas, as encarava e dizia: Amigo! Guardei-te um figo. Quando te vi...
comi! A promessa de saborear um delicioso figo, tão generosamente ofertado
e já considerado como nosso, sucumbia na decepção sabê-lo engolido por
outro! Esta única manifestação verbal de
um louco era de fato uma grande verdade: não é prudente contar como certo o
sabor do figo!
2012
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