E
eis que se destina, no orçamento da União, vultosa quantia para educação! Vocês
me perguntarão o que tem isto a ver com o vazamento da caixa d’água. Pois não é
que tem? Isto por que apesar de toda esta verba caixas d’água continuarão a
vazar no enunciado dos absurdos problemas propostos à nossas crianças, nos
livros destinados ao ensino de matemática, em todo País. Será que isto motiva
os pequenos a interessar-se por esta matéria? Não creio! Este assunto e a
constatação do volume do precioso líquido perdido, quando muito interessa a um
desolado síndico desesperado com a elevação das despesas do condomínio!
A
tragédia é que o conceito de condomínio e caixas d’água é ignorado por um
enorme contingente de crianças, e até adultos, que vivem em vilas e pequenas
cidades deste nosso imenso País. Por esta razão vazantes caixas d’água se
constituem num ínfimo exemplo do grau de irrealidade que grassa no ensino
fundamental. Uma reforma urgente, estrutural, planejada, já se faz tarde. Em
1932 o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por vinte e cinco
extraordinários educadores liderados por Anísio Teixeira já se referia ao
descompasso na educação:
“No entanto, se depois de 43 anos de regime
republicano, se der um balanço ao estado atual da educação pública, no Brasil,
se verificará que, dissociadas sempre as reformas econômicas e educacionais,
que era indispensável entrelaçar e encadear, dirigindo-as no mesmo sentido,
todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade,
não lograram ainda criar um sistema de organização escolar, à altura das
necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentário e
desarticulado”
O fragmentário e o desarticulado ainda vigem após
123 anos! Portanto não há que se culpar apenas a Era Lula. Esta porém é culpada
ao adotar a pratica da improvisação nas ações destinadas a acudir
conjunturas, nos discursos vazios, na incompetência no trato da Educação. Em
vão Cristovão Buarque mostra o caminho. Um programa nacional contendo matérias
desnecessárias, nas quais o decorar é a tônica, é aplicado do Oiapoque ao
Chuí.
Estarrecida, assisti em uma pequena cidade do
centro maranhense, crianças decorando nomes de rios da África! Quando por mim
perguntadas, mostraram um total desconhecimento dos rios existentes em seu
Município e Estado. E, no livro adotado para matemática, sem surpresa,
encontrei o nefando problema de caixa d’água que vaza! Inexistiam problemas
sobre bolas de gude, bonecas de pano, quantidade de cabras responsáveis pelo
sustento da família, ganho dos meeiros, valor do arrendamento da terra, volume
utilizado da palha do buriti, léguas que caminham para chegar à escola, ou
qualquer outro que fizesse sentido e, mais que isto, que possibilitasse
utilizar a matéria para solucionar
problemas reais em suas vidas.
Como poderiam aquelas crianças ter interesse por
rios da África, tão distante e tão irreal para elas? Matemática e Português os
poderia preparar para vida desde que percebessem nestas matérias alguma coisa
passível de ser usada, com grande utilidade e vantagem até em suas diversões e
brincadeiras. Através delas poderiam ser introduzidos conhecimentos de
Geografia, História, Biologia tornados vivos e verdadeiros pelo papel que estes
saberes se inserem em sua realidade, descritos em linguagem e forma adequadas à
cultura e interesse local. Ao invés disso o irreal vazamento de caixas d’água,
completamente desassociado de sua realidade, é a tônica.
Como fixar alguém à
terra natal, como fazer este alguém apto a mudar a realidade desta mesma terra,
a pensar em seu desenvolvimento, se nunca lhe for mostrado de maneira atrativa,
e por que não divertida, a história, a geografia e a ciência que se manifestam
no dia-a-dia? De forma palpável, substantiva. É improvável que alguma destas
vítimas vá se transferir para África, o que é, aliás, é uma benção. Mas também
não serão estimuladas a ficar onde estão já que só são capazes de sentir e
perceber as desvantagens. Estas sim palpáveis e visíveis.
O “sul maravilha”, mostrado pela televisão, as
prepara mais para o êxodo previsível ou para a mesmice do ficar por lá sem que
tenham sido estimulados para que, quando adultos, empreendam a mudança da realidade.
Triste a coisa! Os olhos míopes do poder, quando palanques são montados nestes
longínquos rincões, não enxergam futuros cidadãos e sim eleitores do próximo
evento. A promessa nunca é de cidadania. Ensinar a pensar não é
prioridade, muito menos intenção.
O efeito danoso não atinge só as crianças, mas
também, e muito, os pobres professores despreparados e abandonados pelo Estado.
Têm eles que se conformar com caixas d’água, mesmo por que em seu despreparo e impossibilidade tornam-se impotentes para formular problemas ou criar textos que despertem e estimulem o
interesse e o encanto. E este interesse é muito diverso em cada estado, em cada
município, em cada cidade ou vila.
Vai daí que as caixas d’água, e não as familiares
cacimbas ou poços vão continuar a vazar levando para o ralo a esperança de um
Brasil voltado para formação de cultura.
Parece estar longe o surgimento de um competente e bem intencionado
bombeiro que, de uma vez por todas, resolva este vazamento absurdo e cruel.
2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário