Inútil
buscar informações junto a médicos, terapeutas ou qualquer outro profissional
que lide com as mazelas humanas. A Síndrome de Boris nunca foi estudada e, cá
pra nós, acredito que nunca terá cura. Existe desde que o mundo é mundo e ataca
homens e mulheres, independente de raça ou faixa etária. Suas características
são sui generis: não causa qualquer dano ao portador, ao contrário, seus
efeitos (devastadores) só são observados naqueles com quem este convive.
Não
é contagiosa, nem genética já que não se transmite de pai para filho.
Estranhamente é mais observada em ambientes de trabalho, embora se tenha
notícia de que ocorre também em outros. E, podem se passar anos sem que se
manifeste. Para que ocorra é necessário que algum fato externo ao portador,
aconteça. Não se tem notícia da época em que surgiu na história da humanidade,
mas há indícios de que sempre existiu. Só recentemente foi catalogada com o
nome de um portador - Boris – pelo relato detalhado dos efeitos danosos que
provocou na comunidade onde passou a ocupar importante
cargo para o qual foi nomeado não considerado o fator competência mas sim por indicação superior.
Todo
este preâmbulo é necessário para que eu faça um alerta aos brasileiros: estamos
em plena epidemia da Síndrome e é necessário que os que são objeto de seus
terríveis efeitos sejam alertados. Não para que possam tomar alguma medida.
Como já disse não há tratamento possível. Mas é importante que possam entender
o que está acontecendo para que, desesperados, não se deixem abater ou adotem
comportamentos extremos, como ocorreu com pelo menos uma comunidade vitimada
como verão no relato que passo a fazer. Além disto, é importante que saibam que
dá e passa: é uma doença que só se revela durante crises. Findas estas
desaparece como encanto para reaparecer na próxima. Isto posto, vamos ao relato.
Boris
é um cão. Sim, a Síndrome também ataca animais. E este relato só de um deles
trata embora os sintomas e feitos manifestem-se os mesmos na raça humana, sem
tirar nem por. Pois bem, então: Boris, boxer por raça, era preguiçoso e malandro, desde o
nascimento. Sujeito de sorte, o Boris. Seus donos o designaram para o cargo de segurança da residência, sem verificar se tinha ou não qualificações para exercê-lo, somente
porque foi indicado por um irmão da dona da casa. Vai daí que Boris passou a
viver numa bela mansão. E põe bela nisto.
Boris
tinha consciência de que devia ao irmão da dona o posto que ocupava como
responsável pela segurança da chácara. Mas para exercê-lo Boris teria que, no
mínimo, ser capaz de se movimentar atento a quaisquer ruídos ou acontecimentos
não reconhecidos como normais. Mas como fazer isto quando a comida era tão
farta e a vida contemplativa tão bela? Afagos em profusão e, sobretudo, aquela
bela varanda de onde se descortinava a vista da cidade, varrida por brisa
constante que induzia ao repouso e ao sonho. A tudo Boris reagia como se lhe
fosse devido.
Deitado
em sua varanda, sonolento, olhava complacente, os gansos que nadavam majestosos
no lago azul que adornava o gramado. Com estes mantinha uma relação pra lá de
cordial. Tinha plena consciência de que eram eles – os gansos - que lhe
permitiam conservar o título de segurança confiável. Com extrema competência eles exerciam o trabalho que lhe era afeto: estranhos eram anunciados por um grasnar
ensurdecedor. Boris, ao escutar este alarido, abria um olho e, mesmo deitado,
emitia latidos ameaçadores chamando atenção dos donos que assim nunca se deram
conta da ineficiência de Boris e continuavam a tratá-lo como um funcionário de
extrema competência e confiabilidade.
O
único problema existente na sinecura de Boris era que por vezes o irmão, que
morava em São Paulo, vinha em visita. Como mostrar serviço nestas raras
ocasiões? Boris, inteligente e esperto, encontrou a solução que comprova os
efeitos da síndrome naqueles não portadores. Todas as vezes que o carro do
irmão anunciava-se ao portão, Boris transformava-se num cão ferocíssimo. Ameaçador,
latindo, espumando, avançava, falta de outro oponente, contra o bando de gansos
que, magoados e desorientados, debandavam em todas as direções tentando fazer
alguma coisa, qualquer coisa, que pusesse fim àquela cruel e inexplicável
investida. Um deles, certa feita, chegou até a voar em desespero transpondo o
muro alto e entrando janela adentro de uma radio patrulha que ali estacionara.
Foi julgado culpado de agressão, o coitado.
Durante
toda permanência do irmão, Boris levava os gansos à loucura “mostrando
serviço”. Tão logo ele partia tudo voltava ao normal. Quer dizer, voltava ao
normal para Boris, porque os gansos neuróticos, tristes e desesperançados
continuariam a alertar para a existência de possíveis intrusos, bons e honestos
profissionais que eram, para que Boris colhesse os louros do desempenho
perfeito do honroso cargo,
2005
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