Rio de Janeiro de 1945. A turma da
praia de Copacabana era formada de três casais de namorados e um avulso:
Marcelo. Colégio, guerra, beijos na boca, filmes de Hollywood e leitura de
livros "proibidos", construíam a vida e os sonhos daquela meninada
até que Maria do Socorro, prima de uma das meninas, vem para o Rio estudar. E
nada mais foi como antes: Marcelo apaixona-se perdidamente por Maria e ela por
ele. E foi uma reviravolta na vida daqueles meninos. Namoravam, sim, mas ainda
não havia descoberto o amor. E aquilo de Marcelo e Maria era amor. Amor pra
valer. Seria apenas mais um lindo romance: namoro, noivado e casamento, mas uma
carta anônima é enviada ao arcaico pai de Maria. Furioso ele proíbe o namoro da
filha com "aquele pilantra". Findo o ano escolar ela irá retornar ao
Ceará. Até lá colégio interno e nos fins de semana só pode sair acompanhada
pela Tia. A notícia deixou a garotada aterrada e Marcelo desorientado. O fim do
romance os deixaria órfãos de amor. Era urgente, descobrir uma forma de impedir
a separação. Mas, como? Até que numa conversa restrita aos rapazes, um lança a
bomba: “emprenha ela! Ai tem que casar”.
Foi um Deus nos Acuda. A reação indignada de Marcelo inicialmente é
compartilhada pelos demais que aos poucos se rendem à evidência: é a única
solução. Comunicam às meninas. Estranhamente estas exultam: é isto! Mas ai a
coisa complicou. Dois problemas seriíssimos surgem: onde? Como ter certeza de
que Maria ficaria grávida? A desinformação era total: virgens - as meninas;
inexperientes – os rapazes. Além disto, Maria estava proibida de botar o pé
fora de casa. Para solução criaram-se comissões já que o assunto era escabroso
demais para ser discutido por um parlamento misto: a das meninas e a dos
rapazes. Era ainda necessário que Maria, que não mais participava das reuniões,
fosse consultada e concordasse com este passo tão radical. A prima faz a
consulta. Emocionados, em baixo de cada uma das barracas meninas e rapazes são
informado: ela disse sim. E Marcelo chorou.
A comissão das meninas vai se ocupar de como ficar-se grávida certamente; a dos
meninos do local. As soluções propostas, inicialmente beiram o absurdo:
-
Diz
que vinagre é tiro e queda.
-
Pra
tomar ou pra passar?
-
Não
sei!
- Um
travesseiro em baixo pra ficar inclinada e o espermatozóide desce pela
gravidade!
-
Você
tem coragem de dizer espermatozóide na frente dos meninos, quando for instruir
Marcelo?
-
Dou
um jeito.
-
Dentro
de um carro.
-
Mais
respeito! Você está falando da mulher que eu amo!
Finalmente um dos rapazes, a
contragosto, confessa que um seu primo é dono de uma garçonnière. Duramente
repudiado pelos amigos por ter escamoteado esta informação até aquela data
torna-se, no entanto, o salvador da Pátria. Já têm o local. E uma das meninas,
filha de médico, obtém do pai a solução “científica” para garantir a gravidez:
a tabela de Ogino e Knauss. A prima eximia imitadora de assinaturas, habilidade
que lhe valia sair da enrascada de péssimos boletins, produz um bilhete da mãe
que permite a saída de Maria do colégio para ir ao dentista. E chega o grande
dia. A garconníère é emprestada por apenas duas horas, à tarde. Na Americana,
num consumo espantoso de sundaes de waffles com maple a turma espera aflita. Na
imaginação deles, Maria e Marcelo são protagonistas de um filme. Trasvestidos
nos atores preferidos de cada um desenrola-se uma tórrida cena de amor.
-
Ela
levou camisola?
-
Não!
-
Xiiii!
Eles estão atrasados. Será que o Pai
descobriu? Baixa o pânico. Um deles tem a horrível idéia: e se eles se
suicidaram? E eles chegam. Mão na mão. Olhares, emocionados, tão emocionados,
se concentram no rosto dos dois que apenas sorriem. Sem palavra eles deixam a
chave na mesa e partem. Mão ainda na mão. O grupo, num silêncio mágico, segue
atrás. Foi ontem... há sessenta e cinco anos.
2010
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