Ao contrário do que possa parecer não passei
a escrever em inglês para descrever um romântico beijo num apaixonado texto. KISS é uma vulgarização usada para
resumir um princípio lógico defendido por ilustres filósofos e cientistas.
Longe de significar beijo, nem mesmo é uma palavra. É uma sigla formada por
iniciais de uma frase um tanto malcriada: “KEEP
IT SIMPLE, STUPID”!
O princípio nela resumido é o da Navalha de
Occan. Trocado em miúdos este princípio preconiza, de forma bem mais gentil do
que KISS, que “na explicação de qualquer fenômeno devem ser eliminadas todas as
premissas que não trariam qualquer diferença, atendo-se àquela estritamente
necessária para explicá-lo”. Ou seja, é uma condenação à verborragia de que
são acometidas algumas pessoas para explicar ou justificar um fato ou um
acontecimento.
Vai ver o frade franciscano William Ockham, criador
do Princípio, chegou a esta formulação por ter suportado intermináveis
explicações desnecessárias de alguns fiéis sobre pecados cometidos, na
tentativa de justificá-los, quando uma só bastaria.
São inúmeros os exemplos da existência de não
seguidores do preconizado pelo Princípio da Navalha de Occan de que temos
notícia na história da humanidade. Mas eis que, na atualidade, me chamou
atenção um aspecto que ao frade passou despercebido. Numa torrente de palavras algumas autoridades
do legislativo, judiciário e executivo, em todos os níveis da administração
pública, elaboram falas exaustivamente longas, pesadamente adjetivadas,
carregadas de erudição, hermetismo e citações, tentando convencer os ouvintes que
fenômenos notoriamente injustificáveis...
são justificados!
Isto me faz chegar à conclusão de que o frade
deixou de enunciar um corolário importante ao Princípio: “a pluralidade de explicações para um mesmo fenômeno pode, em alguns
casos, constituir-se num artifício para impedir que se perceba tratar-se de fenômeno
inverídico”. A intenção quando praticado este corolário é clara: levar os
ouvintes ao desespero, vencendo-os pelo cansaço, impedindo a compreensão e o
julgamento.
Minha condição de total vadiação, desde que
parei de trabalhar há sete anos, me faz assistir ou ler uma enxurrada dos mais
variados depoimentos e pronunciamentos prestados por toda a sorte de indivíduos
do bem e do mal: políticos, técnicos, policiais e autoridades diversas, baseados
em absurdas e exaustivas premissas, comprovando o acerto do corolário que
proponho.
O julgamento do Mensalão é um exemplo perfeito
da não observação do Princípio. Com honrosas exceções alguns Ministros,
encantados com o som de sua própria voz, nos levam à loucura. Espanta-me não
ter lido em qualquer dos muitos comentaristas deste evento uma correlação da
atuação de algumas das Excelências com o Princípio da Navalha de Occan. Salta
os olhos. Nada justifica o desfiar de um manancial de argumentos embasados em
centenas de Leis, Regulamentos e Posturas, citações de personalidades famosas,
livros, fatos históricos e que mais sei eu, já que se certos em suas afirmações
e convicções apenas um destes poderia justificar o que pretendem afirmar. A
menos que, é claro, estejam exercendo a prática prevista no corolário. Ai sim é
indispensável atordoar os seus pares e a sociedade. Mas longe de mim afirmar
tal coisa!
Lamentei o destempero do Ministro Joaquim
Barbosa, a quem muito admiro. Seria melhor ter-se calado agüentando o calvário
com mais paciência. Admito a dificuldade de não reagir com violência diante do que
estava ocorrendo, mas houvesse o Ministro recordado o enunciado do Princípio de
Occan, elegantemente poderia murmurar um simples KIS, retirando o último S
malcriado por desnecessário e até redundante. Afinal o som é o mesmo, não? E
isto, convenham, soaria até delicado.
2013
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