Fui surpreendida num belo domingo do carnaval de 2007 por uma
das manchetes do O Globo: “O Governo planeja comprar camisinhas maiores”. O que me encantou foi o verbo “planejar”. Nos
tempos que correm este verbo não está sendo exercido por nossos
governantes. A notícia era alvissareira, sobretudo para os estados da Bahia,
Pernambuco e Tocantins. Sabe-se lá porque, nestes estados tornava-se imperioso
que dois milímetros fossem acrescidos à largura das camisinhas distribuídas
pelo Ministério da Saúde.
Encantou-me também o fato (relatado pela notícia) de que o
Governo não iria sair, açodadamente, acrescentando os dois milímetros aos
preservativos. Ao contrário da prática atual do simplismo e imediatismo,
apagando incêndios sem qualquer lógica, profundidade ou cuidado, iria estudar
seriamente o assunto. Uma pesquisa seria feita para determinar se realmente
existia público para preservativos desta dimensão. Esta pesquisa iria mapear a
demanda e serviria de base para um projeto piloto que atestaria (ou não) a
necessidade deste milimétrico acréscimo.
Não me entendam mal. Não estou de forma alguma fazendo graça
com a distribuição de camisinhas. Se há uma coisa que é bem feita neste País, e
mais que necessária, é esta medida que salva milhares de vidas enfrentando a
censura e o poder da Igreja que inexplicavelmente as põe em risco. É mais que
louvável e o Brasil tornou-se mundialmente notável por sua acertada política na
prevenção da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis.
O que me espantou foi o fato de que estes dois milímetros a
mais eram necessários em apenas em três
estados da Federação. O que explicari este fenômeno? Será que a pesquisa iria
esclarecer? Como estariam se sentindo os homens dos demais estados? Humilhados?
Literalmente diminuídos? Esta humilhação seria confessada no questionário da
pesquisa? Por que é claro que teria que
existir um questionário. Imaginar uma mensuração “in loco” ainda que por
amostragem seria um absurdo de muito difícil operacionalização.
Segundo o Secretário Geral da Sociedade Brasileira de
Urologia os homens pernambucanos, baianos e tocantinenses poderiam estar se
sentindo desconfortáveis nestes preservativos com dois milímetros a menos.
Portanto impunha-se uma solução. Na minha santa ignorância nunca havia
imaginado que dois milímetros fossem de real importância no aparelhamento deste
atributo masculino para suas funções mais nobres e prazerosas. Mas pelo visto eram.
Mas por que, só anos depois da implantação desta muito bem feita distribuição
de preservativos, surge esta reivindicação?
Habituada a analisar todas as variáveis possíveis de um dado
problema, me pergunto: ocorreu um crescimento de circunferência nestes estados?
E se existiu foi devido a quê? Sequer são estados fronteiriços e sequer têm as
mesmas características étnicas, alimentícias e outras que tais. Que raios estaria
acontecendo por lá? Vocês que me leem talvez façam o julgamento de não ser
muito edificante e próprio que uma senhora de minha idade dedique tanto tempo e
interesse a tal assunto. E ainda mais
que escreva sobre isto! Pode até ser. Mas estou fascinada, fazer o quê? Nos
tempos que correm raramente a leitura do jornal me leva à reflexões intrigantes
como estas.
Comecei a imaginar as soluções técnicas necessárias à
elaboração deste questionário para que as respostas não viessem carregadas de
viés motivado pela impossibilidade de superar a humilhação de ser portador de
dois milímetros a menos. São Paulo curvando-se à superioridade de Tocantins?
Inimaginável! Creio que as perguntas seriam mais ou menos formuladas como: você
se sente confortável com 53 milímetros? Aqui é necessário que seja explicado
para quem não leu a notícias que o tamanho reivindicado pela Bahia, por
Pernambuco e por Tocantins é de 55 milímetros. Dois acima dos atuais 53. Acudiu-me
uma dúvida: confortável talvez não seja a palavra mais justa para descrever
qualquer sensação que ocorra no momento em que o preservativo é um “must”. Não
é muito provável que se pense em conforto numa hora destas. Bem aparelhado?
Operacionalmente adequado? Ou quem sabe
partir para a negativa, o que nunca é aconselhável em questionários, mas já que
este é um caso não muito ortodoxo: você não se sente bem equipado com 53
milímetros?
Confesso que gostaria que o mapeamento da pesquisa fosse
divulgado. Deve ser interessantíssimo. Nascida no Rio de Janeiro sou uma
apaixonada pelo Nordeste e tenho ótimas lembranças da região que hoje é o
estado de Tocantins. Sempre me alegra quando vejo se fazer justiça a qualquer
característica das regiões citadas na notícia. Mas nunca imaginei que fossem
merecer destaque por uma superioridade de dois milímetros num atributo de
qualificações tão traumáticas para a masculinidade. Portanto só me restaria esperar
a comprovação de que o fenômeno só ocorre mesmo nestes estados para enviar a
seus habitantes masculinos os meus mais sinceros parabéns esperando que conseguissem,
num breve tempo, ter atendida a sua mais que justa reivindicação.
Agora passados mais de seis anos me dou conta de que nada mais
foi noticiado sobre o caso. Estranho! Será que foi solicitado, pelos estados
não favorecidos, que o projeto se desenvolvesse em segredo de justiça para
não fossem expostos à humilhação de uma
literal inferioridade milimétrica?
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