terça-feira, setembro 10, 2013

DA MILIMÉTRICA SUPERIORIDADE ESTADUAL

Fui surpreendida num belo domingo do carnaval de 2007 por uma das manchetes do O Globo: “O Governo planeja comprar camisinhas maiores”.  O que me encantou foi o verbo “planejar”. Nos tempos que correm este verbo não está sendo exercido por nossos governantes. A notícia era alvissareira, sobretudo para os estados da Bahia, Pernambuco e Tocantins. Sabe-se lá porque, nestes estados tornava-se imperioso que dois milímetros fossem acrescidos à largura das camisinhas distribuídas pelo Ministério da Saúde. 
Encantou-me também o fato (relatado pela notícia) de que o Governo não iria sair, açodadamente, acrescentando os dois milímetros aos preservativos. Ao contrário da prática atual do simplismo e imediatismo, apagando incêndios sem qualquer lógica, profundidade ou cuidado, iria estudar seriamente o assunto. Uma pesquisa seria feita para determinar se realmente existia público para preservativos desta dimensão. Esta pesquisa iria mapear a demanda e serviria de base para um projeto piloto que atestaria (ou não) a necessidade deste milimétrico acréscimo.
Não me entendam mal. Não estou de forma alguma fazendo graça com a distribuição de camisinhas. Se há uma coisa que é bem feita neste País, e mais que necessária, é esta medida que salva milhares de vidas enfrentando a censura e o poder da Igreja que inexplicavelmente as põe em risco. É mais que louvável e o Brasil tornou-se mundialmente notável por sua acertada política na prevenção da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis.
O que me espantou foi o fato de que estes dois milímetros a mais eram  necessários em apenas em três estados da Federação. O que explicari este fenômeno? Será que a pesquisa iria esclarecer? Como estariam se sentindo os homens dos demais estados? Humilhados? Literalmente diminuídos? Esta humilhação seria confessada no questionário da pesquisa?  Por que é claro que teria que existir um questionário. Imaginar uma mensuração “in loco” ainda que por amostragem seria um absurdo de muito difícil operacionalização.
Segundo o Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Urologia os homens pernambucanos, baianos e tocantinenses poderiam estar se sentindo desconfortáveis nestes preservativos com dois milímetros a menos. Portanto impunha-se uma solução. Na minha santa ignorância nunca havia imaginado que dois milímetros fossem de real importância no aparelhamento deste atributo masculino para suas funções mais nobres e prazerosas. Mas pelo visto eram. Mas por que, só anos depois da implantação desta muito bem feita distribuição de preservativos, surge esta reivindicação?
Habituada a analisar todas as variáveis possíveis de um dado problema, me pergunto: ocorreu um crescimento de circunferência nestes estados? E se existiu foi devido a quê? Sequer são estados fronteiriços e sequer têm as mesmas características étnicas, alimentícias e outras que tais. Que raios estaria acontecendo por lá? Vocês que me leem talvez façam o julgamento de não ser muito edificante e próprio que uma senhora de minha idade dedique tanto tempo e interesse a tal assunto.  E ainda mais que escreva sobre isto! Pode até ser. Mas estou fascinada, fazer o quê? Nos tempos que correm raramente a leitura do jornal me leva à reflexões intrigantes como estas.
Comecei a imaginar as soluções técnicas necessárias à elaboração deste questionário para que as respostas não viessem carregadas de viés motivado pela impossibilidade de superar a humilhação de ser portador de dois milímetros a menos. São Paulo curvando-se à superioridade de Tocantins? Inimaginável! Creio que as perguntas seriam mais ou menos formuladas como: você se sente confortável com 53 milímetros? Aqui é necessário que seja explicado para quem não leu a notícias que o tamanho reivindicado pela Bahia, por Pernambuco e por Tocantins é de 55 milímetros. Dois acima dos atuais 53. Acudiu-me uma dúvida: confortável talvez não seja a palavra mais justa para descrever qualquer sensação que ocorra no momento em que o preservativo é um “must”. Não é muito provável que se pense em conforto numa hora destas. Bem aparelhado? Operacionalmente adequado?  Ou quem sabe partir para a negativa, o que nunca é aconselhável em questionários, mas já que este é um caso não muito ortodoxo: você não se sente bem equipado com 53 milímetros?
Confesso que gostaria que o mapeamento da pesquisa fosse divulgado. Deve ser interessantíssimo. Nascida no Rio de Janeiro sou uma apaixonada pelo Nordeste e tenho ótimas lembranças da região que hoje é o estado de Tocantins. Sempre me alegra quando vejo se fazer justiça a qualquer característica das regiões citadas na notícia. Mas nunca imaginei que fossem merecer destaque por uma superioridade de dois milímetros num atributo de qualificações tão traumáticas para a masculinidade. Portanto só me restaria esperar a comprovação de que o fenômeno só ocorre mesmo nestes estados para enviar a seus habitantes masculinos os meus mais sinceros parabéns esperando que conseguissem, num breve tempo, ter atendida a sua mais que justa reivindicação.
Agora passados mais de seis anos me dou conta de que nada mais foi noticiado sobre o caso. Estranho! Será que foi solicitado, pelos estados não favorecidos, que o projeto se desenvolvesse em segredo de justiça para não fossem expostos à humilhação de uma literal inferioridade milimétrica?   

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