- Olá!
Por aqui de novo? Logo hoje!
- Preciso
de ânimo! No ano passado aquela ceia de fim de noite que você me proporcionou,
foi tão legal! Vai daí que pensei em passar para uma conversinha. Como sempre você deixou a janela aberta! Uma
imprudência.
- Você
tem razão, mas esta trancação a que hoje nos obrigam é tão desagradável, né?
Por lá vocês não têm este problema, não é?
- Pensa
você! A fábrica de brinquedos vive trancada. Depois que acabaram com o limbo as
criancinhas invadem e fazem uma bagunça que só vendo. Mas sem violência, é
claro. É só uma travessura. Como vão as
coisas por aqui?
- Vão
como Deus é servido. Mas Ele não tem se servido muito bem, ultimamente.
- Tô
sabendo. Dá um desconto, filha. Você não imagina o trabalho que dá esta
humanidade. Mesmo sendo onipresente e onisciente é uma tarefa hercúlea dar
conta de tudo.
- Hercúlea?!
Hércules é um semi-deus pagão! Você não devia aplicar este adjetivo a Ele!
- Mas
Hércules era um homem do bem!
- Mesmo
assim! ... Você conhece?
- Quem?
- Hércules.
Vai me dizer que ele anda por lá!
- Ah!
Conheço, sim. È um bom sujeito. Um tanto bronco, mas bem intencionado. Foram
feitas algumas concessões para os que viveram na época AC. Afinal eles não
tinham como saber da Verdade. Mas não sai contando isto por ai. Pode dar uma
confusão do diabo! Perdão! O “diabo” escapuliu!
- Imagina!
Conto não. Fica tranqüilo. Mas quer dizer que todos aqueles gregos estão por
lá? Mesmo os Deuses?
- Você
está querendo saber demais.
- Desculpa!
Mas a ideia é fascinante. Fico imaginando como...
- Pois
pára com isto! Imaginação demais faz mal.
- É
que quando eu era criança - eles - os deuses gregos, eram meus ídolos.
- E
não são mais?
- Acho
que não! Nestes últimos tempos meus ídolos andam sendo destruídos.
- Os
meus também.
- Você
tem ídolos?! Como é que pode?! Você é santo! Ou melhor, seu alter ego é: São
Nicolau, não é?
- Esta
minha dupla personalidade permite. Como Papai Noel posso me dar ao luxo de
algumas derrapagens. Ídolos estão cada vez mais raros. Veja só o Ronaldinho!
Não está jogando nada. Eu mesmo estou sendo destruído por aí afora. Poucos acreditam.
De certo modo têm razão. Fiz por isto. Ou melhor, não fiz. Nesta de dar
brinquedos deixei de lado coisas mais importantes. Vai daí que estou me
tornando um iconoclasta de mim mesmo. É
pirante, não é?
- Se
é! Mas eu ainda acredito em você. É um dos poucos que sobraram. Preciso
acreditar para que Maria Clara não se decepcione tão cedo.
- Sua
neta menor, não é?
- Ela
mesmo. Preciso que você exista para ela.
- E
para você, não?
- Claro
que sim. Mas seria esperar demais. Ando me contentado com pouco. Se tiver para
ela já é de bom tamanho.
- Ah!
Além dos deuses gregos, ao longo da vida, quem eram os outros?
- Muitos.
E foram sendo destruídos um a um, ingressando numa categoria a qual você me
apresentou quando eu tinha seis anos.
- Eu?!
Não me lembro. Do que se trata?
- Um
livro. No Natal de 1936. Max und Moritz. Eu adorava a história daqueles meninos
terríveis. Você me deu no original alemão, o que foi uma grande sujeira. Acho
que você quis agradar a Fräulein.
- Lembro-me
agora! Foi para agradar a Fräulein, sim. Você atormentava a vida dela. Era um
pequeno demônio. Ai,ai,ai! Escapuliu de novo! Mas o que este livro tem a ver
com este negócio de categoria?
- Uma
frase da qual nunca me esqueci. Um dos personagens descrevia os meninos assim:
“por fora bela viola; por dentro pão bolorento”. Os meus ídolos andam se
transformando em pães bolorentos.
- Que
horror! Mas é verdade! Vai daí quem sabe a gente consegue reverter isso. O por
fora não tem muita importância; mas o por dentro pode virar pão doce. Preciso
começar a trabalhar neste sentido.
- Deus
te ouça!
- É
verdade! Tá na hora Dele fazer isto!
2006
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