domingo, dezembro 29, 2013

MISONEÍSTAS E NEÓFABOS

 Que me perdoem meus pares! Mas muitos de nós da terceira idade somos isto aí que está no título. Alguns odeiam com todas as nossas forças (as que ainda lhes restam...) tudo que é novo. O invariável “no nosso tempo era melhor” investe contra qualquer novidade. Isto não é (sempre) uma verdade. A transformação de descobertas “do bem” em ferramentas “do mal” deve ocorrer – creio - desde o dia em que um homem das cavernas rachou com o recém descoberto machado de pedra o crânio de quem lhe roubou a esposa. O problema não foi o machado, foi o homem. Continua a ser o homem quando isto ocorre hoje com um calibre 38.

Todos os dias agradeço a Babbage a invenção daquela geringonça idealizada há mais de 100 anos e que resultou no microcomputador que torna possível, entre outras maravilhas, o supermercado on-line. Mas enumerar o mau ou bom uso de maravilhosas descobertas não é minha intenção nesta manhã,  tão bela, em que escrevo observada pelos micos encarrapitados na mangueira. É triste mas tenho uma confissão a fazer: descobri-me também misoneista e neófaba.

Trata-se da cada vez mais difundida cyber linguagem. Ouvi dizer que surgiu, não dos adolescentes que são seus melhores e maiores divulgadores e adeptos, mas do advento do telefone celular. O custo das ligações é alto e a abreviatura das palavras e a eliminação de acentuação significou uma considerável redução de tempo na transmissão de mensagens. Mas não importa muito onde ou porque surgiu. O fato é que se alastrou como uma epidemia que agora – receio - já se torna endêmica. 

Há um aspecto curioso que certamente já deve ter sido comentado por alguém, mas me passou despercebido: o que vai ocorrer, por exemplo, com os sistemas de busca na Internet se esta coisa continuar a crescer de forma exponencial? E com o Hipertexto, para mim uma dos mais extraordinários avanços da informática? O que foi criado para reduzir o custo das mensagens via celular vai provocar uma complicação dos diabos e um conseqüente e significativo aumento de custos.  Mas o que mais me intriga não é a grafia. É o estranho efeito que esta linguagem produz em quem a utiliza. Sei lá eu porque todo e qualquer comentário nela escrito provoca uma sensação de euforia em seu autor que a comunica ao endereçado com uma profusão de “rs” presentes no final das frases significando que estão rindo. Riem muito, os cyber escritores e, justiça seja feita, são muito carinhosos ao distribuir, em profusão, bjs e abs, naum é?

Gentil, uma senhora já cinquentona, desejou-me um ótimo fds. Confesso que imaginei o pior! Ofendida fiquei, e muito, até me ser esclarecido que se tratava de fim-de-semana. Ainda não tive coragem de ver o Cyber Movie com legendas idem. Não é mesmo prudente que o faça. A leitura das legendas poderá me levar à exaustão ao final de duas horas. Já bastam as infelizes traduções que percebo em algumas legendas como uma que outro dia li com espanto. Um personagem fez menção de outro do qual não havia indício da existência na trama, tudo isto porque general manager (gerente geral) havia sido traduzido como um General Manager! 

Não sei se entre meus leitores existe um neurologista. Não os imagino em grande quantidade portando é probabilisticamente improvável que exista. Mas se houver gostaria de ser informada se esta minimalista linguagem pode provocar, no decorrer do tempo, igual reducionismo no cérebro. Se isto acontecer que estranhos comportamentos poderão começar a ocorrer? Quantos neurônios deixarão de funcionar? Procuro alguma vantagem nisto: vai daí, quem sabe, a evolução desta linguagem poderá ultrapassar as barreiras da escrita permitindo a verbalização.

Já me imagino na janela, frente à mangueira, mantendo um estimulante diálogo com os micos já que teremos o cérebro do mesmo tamanho. Um diálogo sem vogais é claro. Sabe-se lá. Os homens das cavernas talvez não as utilizassem. Até lá espero que os criativos inventores resolvam problemas que me parecem insolúveis. Por exemplo, a grafia pt, que até hoje significava ponto, poderá significar pote, pito, pitu, pata, peta, poti, piti, parando por aí para não descer o nível que se impõe a alguém de minha idade.

Frases podem ficar inteiramente sem sentido caso isto não se resolva. Lembro-me que quando surgiram os programas tradutores nos demos conta de que seria um grande avanço, mas em alguns casos nunca se tornaria possível traduzir frases que teriam outro sentido que não o aparente, dependendo do contexto. O exemplo clássico era: “esta galinha pode ser comida”. Este problema ainda permanece sem solução.

Confesso-me pois misoneista e neófaba coisa que me desagrada porque estas duas palavras são muito feias e serão ainda mais se escritas com a nova grafia: msnst e nfb. Vai ver estou me tornando uma velha intolerante. Se assim for peço perdão por não conseguir me adaptar, neste caso específico, aos novos tempos. Numa tentativa de lançar uma ponte de mim para os que adotam, entusiasmados, esta forma de comunicação, e num esforço de reportagem, me despeço enviando a tds vcs abs, bjs e desejos de um ot fds (rs).
2007

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