Que me perdoem meus pares! Mas muitos de nós da terceira
idade somos isto aí que está no título. Alguns odeiam com todas as nossas
forças (as que ainda lhes restam...) tudo que é novo. O invariável “no nosso
tempo era melhor” investe contra qualquer novidade. Isto não é (sempre) uma
verdade. A transformação de descobertas “do bem” em ferramentas “do mal” deve
ocorrer – creio - desde o dia em que um homem das cavernas rachou com o recém
descoberto machado de pedra o crânio de quem lhe roubou a esposa. O problema
não foi o machado, foi o homem. Continua a ser o homem quando isto ocorre hoje
com um calibre 38.
Todos os dias agradeço a Babbage a invenção daquela
geringonça idealizada há mais de 100 anos e que resultou no microcomputador que
torna possível, entre outras maravilhas, o supermercado on-line. Mas enumerar o
mau ou bom uso de maravilhosas descobertas não é minha intenção nesta manhã, tão bela, em que escrevo observada pelos micos
encarrapitados na mangueira. É triste mas tenho uma confissão a fazer:
descobri-me também misoneista e neófaba.
Trata-se da cada vez mais difundida cyber linguagem. Ouvi
dizer que surgiu, não dos adolescentes que são seus melhores e maiores
divulgadores e adeptos, mas do advento do telefone celular. O custo das ligações
é alto e a abreviatura das palavras e a eliminação de acentuação significou uma
considerável redução de tempo na transmissão de mensagens. Mas não importa
muito onde ou porque surgiu. O fato é que se alastrou como uma epidemia que
agora – receio - já se torna endêmica.
Há um aspecto curioso que certamente já deve ter sido
comentado por alguém, mas me passou despercebido: o que vai ocorrer, por
exemplo, com os sistemas de busca na Internet se esta coisa continuar a crescer
de forma exponencial? E com o Hipertexto, para mim uma dos mais extraordinários
avanços da informática? O que foi criado para reduzir o custo das mensagens via
celular vai provocar uma complicação dos diabos e um conseqüente e
significativo aumento de custos. Mas o
que mais me intriga não é a grafia. É o estranho efeito que esta linguagem
produz em quem a utiliza. Sei lá eu porque todo e qualquer comentário nela
escrito provoca uma sensação de euforia em seu autor que a comunica ao
endereçado com uma profusão de “rs” presentes no final das frases significando
que estão rindo. Riem muito, os cyber escritores e, justiça seja feita, são
muito carinhosos ao distribuir, em profusão, bjs e abs, naum é?
Gentil, uma senhora já cinquentona, desejou-me um ótimo fds.
Confesso que imaginei o pior! Ofendida fiquei, e muito, até me ser esclarecido
que se tratava de fim-de-semana. Ainda não tive coragem de ver o Cyber Movie
com legendas idem. Não é mesmo prudente que o faça. A leitura das legendas
poderá me levar à exaustão ao final de duas horas. Já bastam as infelizes
traduções que percebo em algumas legendas como uma que outro dia li com
espanto. Um personagem fez menção de outro do qual não havia indício da
existência na trama, tudo isto porque general manager (gerente geral) havia
sido traduzido como um General Manager!
Não sei se entre meus leitores existe um neurologista. Não os
imagino em grande quantidade portando é probabilisticamente improvável que
exista. Mas se houver gostaria de ser informada se esta minimalista linguagem
pode provocar, no decorrer do tempo, igual reducionismo no cérebro. Se isto
acontecer que estranhos comportamentos poderão começar a ocorrer? Quantos
neurônios deixarão de funcionar? Procuro alguma vantagem nisto: vai daí, quem
sabe, a evolução desta linguagem poderá ultrapassar as barreiras da escrita
permitindo a verbalização.
Já me imagino na janela, frente à mangueira, mantendo um
estimulante diálogo com os micos já que teremos o cérebro do mesmo tamanho. Um
diálogo sem vogais é claro. Sabe-se lá. Os homens das cavernas talvez não as
utilizassem. Até lá espero que os criativos inventores resolvam problemas que
me parecem insolúveis. Por exemplo, a grafia pt, que até hoje
significava ponto, poderá significar pote, pito, pitu, pata, peta, poti,
piti, parando por aí para não descer o nível que se impõe a alguém de minha
idade.
Frases podem ficar inteiramente sem sentido caso isto não se
resolva. Lembro-me que quando surgiram os programas tradutores nos demos conta
de que seria um grande avanço, mas em alguns casos nunca se tornaria possível traduzir
frases que teriam outro sentido que não o aparente, dependendo do contexto. O
exemplo clássico era: “esta galinha
pode ser comida”. Este problema ainda permanece sem solução.
Confesso-me pois misoneista e neófaba coisa que me desagrada
porque estas duas palavras são muito feias e serão ainda mais se escritas com a
nova grafia: msnst e nfb. Vai ver estou me tornando uma velha intolerante. Se
assim for peço perdão por não conseguir me adaptar, neste caso específico, aos
novos tempos. Numa tentativa de lançar uma ponte de mim para os que adotam,
entusiasmados, esta forma de comunicação, e num esforço de reportagem, me
despeço enviando a tds vcs abs, bjs e desejos de um ot fds (rs).
2007
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