sábado, março 01, 2014

É O DESTINO

A moça se tornara uma obsessão. Aos amigos parecia uma maluquice. Apaixonar-se por alguém havia visto durante apenas alguns minutos! Naquela fila de espera, no aeroporto, haviam trocado poucas palavras. Mas o sorriso, a voz, os olhos brejeiros, o deixaram louco. Marquito pediu, implorou mesmo, o endereço, o telefone, qualquer informação que pudesse garantir um novo encontro quando então ele a pediria em casamento, com certeza. E ela, rindo, respondeu: quem sabe um dia vamos nos encontrar de novo... por acaso... Acredito no destino, sabe?  Aí então... E sem alternativa, ele passou a acreditar também.

Um nome... apenas um nome – Violeta. Naquele tempo ainda era jovem, muito jovem e agora já não era tanto. Durante anos Marquito esgotou todos os recursos na busca de Violeta. Os pais se foram desta vida, preocupados com ele.  Em conchavo com os amigos haviam tentado encontrar alguém que substituísse a amada idealizada. Impossível! Ele nem mesmo olhava as moças que lhe eram apresentadas. Estas bem que se encantavam pela beleza e pela posição invejável de que ele desfrutava. À medida que os anos passavam Marquito foi se tornando um homem triste. Em desespero, nas noites mal dormidas, a imaginava casada, feliz, com filhos que não dele. E sofria. Sofria pra valer. A voz, o sorriso e os olhos brejeiros o acompanhavam onde quer que fosse.


Desistiu do carro. Lembrava-se do destino de que ela falara. Seria mais fácil encontrá-la, no por acaso, em meio aos passantes. Em sua loucura, às vezes, parecia vê-la entre a multidão. E ele corria a seu encontro. Mas nunca era ela. Guardava em sua memória cada traço de seu rosto. Lindo, tão lindo. Rindo, sempre rindo. Um dia pensou: rindo de mim! E ficou ainda mais triste.

Em sua loucura contratou um pintor capaz de reproduzir um retrato falado. Passou meses a seu lado em requintando na busca dos mínimos detalhes, das mais sutis nuances de cores. Até que na tela surgiu, em todo seu esplendor, a amada. E ele pediu ao pintor que a reproduzisse em muitas telas que passaram a povoar as paredes de seu belo apartamento para espanto de todos que nele entravam. Os amigos (e ele os tinha muitos) não mais falavam em terapias, viagens e possíveis substitutas. Resolveram embarcar na loucura. Referiam-se à Violeta como se a conhecessem e como se, a qualquer momento, fosse entrar pela porta. Não mais se afligiam quando em meio a uma conversa, ele emudecia, olhando para um dos muitos retratos de Violeta, refugiando-se num mundo mágico onde só a moça era admitida. Quando isto acontecia, eles saiam de mansinho, sem se despedir, deixando-o só. Sabiam que esta contemplação poderia durar horas.

Um dia lhe falaram de uma cartomante capaz dos mais extraordinários feitos. E a esperança renasceu.  E não sem razão! Maravilhado Marquito a escutou afirmar que iria encontrar Violeta, num acaso, como ela havia previsto. E mais: ela não estava casada! Nunca esteve! As cartas diziam que ela o havia esperado, também. E o encontro estava próximo. Era preciso ficar atento, muito atento, sem qualquer distração, porque iam literalmente se esbarrar na rua. Ao andar pelas calçadas, em busca incessante, deveria esquecer-se de qualquer imagem que não fosse a de Violeta. E ele não parou mais de andar.

Um dia acordou com a sensação de “É Hoje”! Radiante esmerou-se no vestir e no barbear-se e saiu. Ao sair de casa parecia que alguma coisa guiava seus passos. Ia decidido como se soubesse para onde. Ao aproximar-se de uma esquina seu coração bateu mais forte. Ali vou atravessar e ela vai estar do outro lado! Tinha certeza. Já próximo da esquina pára, olhando-se num espelho disposto em uma vitrine. Confere a imagem: será que ela vai me reconhecer? Sorri para si mesmo fazendo render a emoção de que estava preso. Neste exato momento, Violeta dobra a esquina. Prepara-se para atravessar a rua quando esbarra num homem deixando cair embrulhos que trazia. Curvam-se os dois para apanhá-los, rindo e desculpando-se ao mesmo tempo.


O homem está visivelmente encantado com a voz, o sorriso e os olhos brejeiros. Os dois se dão conta de que o sinal já está piscando e, correndo juntos e ainda rindo, atravessam a rua. Neste exato momento Marquito deixa o espelho e se dirige para esquina aguardando, emocionado e esperançoso, a abertura do sinal. Já longe Violeta responde ao homem que lhe faz uma pergunta: é o destino, quem sabe?   

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