A moça se tornara uma obsessão. Aos amigos parecia uma
maluquice. Apaixonar-se por alguém havia visto durante apenas alguns minutos!
Naquela fila de espera, no aeroporto, haviam trocado poucas palavras. Mas o
sorriso, a voz, os olhos brejeiros, o deixaram louco. Marquito pediu, implorou
mesmo, o endereço, o telefone, qualquer informação que pudesse garantir um novo
encontro quando então ele a pediria em casamento, com certeza. E ela, rindo,
respondeu: quem sabe um dia vamos nos
encontrar de novo... por acaso... Acredito no destino, sabe? Aí
então... E sem alternativa, ele passou a acreditar também.
Um nome... apenas um nome – Violeta. Naquele tempo ainda
era jovem, muito jovem e agora já não era tanto. Durante anos Marquito esgotou todos
os recursos na busca de Violeta. Os pais se foram desta vida, preocupados com
ele. Em conchavo com os amigos haviam
tentado encontrar alguém que substituísse a amada idealizada. Impossível! Ele
nem mesmo olhava as moças que lhe eram apresentadas. Estas bem que se
encantavam pela beleza e pela posição invejável de que ele desfrutava. À medida
que os anos passavam Marquito foi se tornando um homem triste. Em desespero, nas
noites mal dormidas, a imaginava casada, feliz, com filhos que não dele. E
sofria. Sofria pra valer. A voz, o sorriso e os olhos brejeiros o acompanhavam
onde quer que fosse.
Desistiu do carro. Lembrava-se do destino de que ela falara.
Seria mais fácil encontrá-la, no por acaso, em meio aos passantes. Em sua
loucura, às vezes, parecia vê-la entre a multidão. E ele corria a seu encontro.
Mas nunca era ela. Guardava em sua memória cada traço de seu rosto. Lindo, tão
lindo. Rindo, sempre rindo. Um dia pensou: rindo
de mim! E ficou ainda mais triste.
Em sua loucura contratou um pintor capaz de reproduzir um
retrato falado. Passou meses a seu lado em requintando na busca dos mínimos
detalhes, das mais sutis nuances de cores. Até que na tela surgiu, em todo seu
esplendor, a amada. E ele pediu ao pintor que a reproduzisse em muitas telas que
passaram a povoar as paredes de seu belo apartamento para espanto de todos que
nele entravam. Os amigos (e ele os tinha muitos) não mais falavam em terapias,
viagens e possíveis substitutas. Resolveram embarcar na loucura. Referiam-se à
Violeta como se a conhecessem e como se, a qualquer momento, fosse entrar pela
porta. Não mais se afligiam quando em meio a uma conversa, ele emudecia,
olhando para um dos muitos retratos de Violeta, refugiando-se num mundo mágico onde
só a moça era admitida. Quando isto acontecia, eles saiam de mansinho, sem se
despedir, deixando-o só. Sabiam que esta contemplação poderia durar horas.
Um dia lhe falaram de uma cartomante capaz dos mais
extraordinários feitos. E a esperança renasceu.
E não sem razão! Maravilhado Marquito a escutou afirmar que iria encontrar
Violeta, num acaso, como ela havia previsto. E mais: ela não estava casada!
Nunca esteve! As cartas diziam que ela o havia esperado, também. E o encontro
estava próximo. Era preciso ficar atento, muito atento, sem qualquer distração,
porque iam literalmente se esbarrar na rua. Ao andar pelas calçadas, em busca
incessante, deveria esquecer-se de qualquer imagem que não fosse a de Violeta. E
ele não parou mais de andar.
Um dia acordou com a sensação de “É Hoje”! Radiante
esmerou-se no vestir e no barbear-se e saiu. Ao sair de casa parecia que alguma
coisa guiava seus passos. Ia decidido como se soubesse para onde. Ao
aproximar-se de uma esquina seu coração bateu mais forte. Ali vou atravessar e ela vai estar do outro lado! Tinha certeza. Já
próximo da esquina pára, olhando-se num espelho disposto em uma vitrine.
Confere a imagem: será que ela vai me
reconhecer? Sorri para si mesmo fazendo render a emoção de que estava
preso. Neste exato momento, Violeta dobra a esquina. Prepara-se para atravessar
a rua quando esbarra num homem deixando cair embrulhos que trazia. Curvam-se os
dois para apanhá-los, rindo e desculpando-se ao mesmo tempo.
O homem está visivelmente encantado com a voz, o sorriso e
os olhos brejeiros. Os dois se dão conta de que o sinal já está piscando e,
correndo juntos e ainda rindo, atravessam a rua. Neste exato momento Marquito deixa
o espelho e se dirige para esquina aguardando, emocionado e esperançoso, a
abertura do sinal. Já longe Violeta responde ao homem que lhe faz uma pergunta: é o destino, quem sabe?
Nenhum comentário:
Postar um comentário